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Jovem conta como infecção levou à perda do bebê: "Tiraram meu útero junto com a Catarina"

Publicado em 12/06/2025, às 21h24
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Por Revista Crescer

Foram dois anos de tentativas até Stefanni H. Gouveia, 24 anos, a de Cascavel, no Paraná, e o marido, Sandro, receberem o tão esperando positivo. A gravidez evoluiu sem intercorrências até que, com 21 semanas, a bolsa estourou. Stefanni foi internada e ficou em repouso absoluto na tentativa de evitar um parto prematuro. "Perdi todo o líquido amniótico", conta. Após uma semana, o casal recebeu a notícia que mais temia — não havia mais batimentos cardíacos.

No entanto, segundo Stefani, logo depois, uma infecção não detectada levou seu corpo ao choque séptico, quando uma infecção provoca uma resposta inflamatória descontrolada no corpo, levando à queda intensa da pressão arterial e ao mau funcionamento de órgãos vitais, como rins, coração e pulmões. "Foi necessário tirar o meu útero junto com a Catarina, pois era o foco da grande infecção que se espalhou pelo meu corpo. Horas após retornar do centro cirúrgico, já na UTI, toda a minha família foi chamada para se despedir. Minha vida foi desenganada pelos médicos. Porém, eu apenas havia saído do mundo material para levar minha filha para o lado do senhor", relata.

Em depoimento à CRESCER, Stefanni conta como se recuperou e de forma essa experiência mudou sua vida. Confira!

"Minha gravidez foi planejada. O teste positivo veio após dois anos de tentativas. A felicidade tomou conta quando descobrimos. Ela já foi muito amada desde o primeiro dia! Eu sempre fui de me cuidar e, durante a gestação, esse cuidado foi redobrado — tomei as vitaminas, fiz todos os exames e ia na academia (fazia só o que podia e com a carga que podia). Foram semanas de muita alegria e gratidão a Deus. Meu sonho sempre foi ser mãe e tudo havia se tornado realidade.

Estava tudo bem até o dia 9 de março de 2025. Eu estava com 21 semanas e minha bolsa rompeu prematuramente. Era um dia normal de domingo e, após o rompimento, eu fiquei muito apreensiva. Só contamos aos familiares após eu dar entrada no hospital. Perdi todo o líquido amniótico e precisei ficar em repouso absoluto. Durante a semana, que fiquei na maternidade em repouso, entrei em trabalho de parto, porém fizeram medicação para segurar. Durante esse tempo, eu orei muito e pedi a Deus para acalmar meu coração. Pedia a todo momento por um milagre e para que Ele nos protegesse. Sandro, meu marido, minha família e amigos também estavam sempre ao meu lado, o que me dava forças.

O quarto da maternidade foi nossa casa por uma semana, onde recebemos o amor de muitas pessoas. Eu não podia sair da cama, então minhas irmãs fizeram uma surpresa — as fotos de gestante. O nosso quarto virou um estúdio e foi tudo muito lindo. Mas mal sabíamos que, no dia seguinte, tudo mudaria.

Eu sentia que algo estava errado, mas nada foi feito. Na madrugada de domingo, não ouvíamos mais os batimentos cardíacos dela. Na segunda pela manhã, o que eu mais temia foi confirmado na ultrassonografia — minha bebê não tinha mais vida. Eu fiquei sem chão, parecia que tudo aquilo era um pesadelo, meu coração ficou partido e até me culpei, mesmo não tendo culpa.

Voltamos para o quarto para esperar a obstetra, mas, devido à demora, ali mesmo, meu corpo entrou em colapso. A infecção, que não foi controlada, causou o falecimento da Catarina e me levou a um choque séptico. Foram quase cinco horas em trabalho de parto induzido e sem sucesso. Quando as minhas forças se esgotaram, fui encaminhada para o centro cirúrgico. ei horas em cirurgia e minha situação era de extrema gravidade. Foi necessário tirar o meu útero junto com a Catarina, pois era o foco da grande infecção que se espalhou pelo meu corpo. Horas após retornar do centro cirúrgico, já na UTI, toda a minha família foi chamada para se despedir. Minha vida foi desenganada pelos médicos. Porém, eu apenas havia saído do mundo material para levar minha filha para o lado do Senhor.

Após o enterro, eu comecei apresentar discretas melhoras — foi quando começaram a baixar os níveis das medicações — extremamente altas —, que estavam mantendo minha pressão e minha vida. Foram longos dias em estado gravíssimo na UTI. Meus órgãos não funcionavam, o coração descompensado, pulmão com atelectasia, rins parados, fígado afetado, medula óssea prejudicada, entre várias outras complicações.

Quando acordei, eu nem imaginava que tinha ado por tudo isso. Demorou um pouco até me falarem sobre o útero e ovário, que foram removidos. Eu sentia que tinha algo diferente, pedi aos médicos e a minha mãe, mas ninguém quis contar. Quem me falou, de fato, sobre tudo foi o Sandro, meu marido. No total, ei 51 dias na UTI, vinte deles entubada. Eu precisei reaprender a falar, comer, andar, mas senti o amor de cada um que cuidou de mim.

Ganhei alta no domingo, dia 1 de junho. Senti uma gratidão enorme e uma felicidade indescritível. Minha família e amigos fizeram uma surpresa na saída e me emocionei muito. Me senti muito amada por todos. Hoje, dez dias depois, ainda tenho meus momentos de choro e tristeza (são poucos), mas sempre peço a Deus para que Ele me ampare. Mas na maior parte do tempo, me sinto grata pela oportunidade que tive de voltar a vida.

Fisicamente, ainda estou me recuperando — estou com os pontos na barriga, faço hemodiálise três vezes na semana, tomo remédios diariamente, meu cabelo está começando nascer novamente… Agora, estou caminhando melhor, dormindo melhor e comendo melhor. Aos poucos, tudo vai se ajeitando.

Ao meu ver, sobre o que aconteceu com Catarina, houve negligência. Se Deus permitir, sim, eu quero ter outro filho. Meu sonho sempre foi ser mãe. Mesmo que não saia de meu ventre, ainda quero muito isso. Lógico que a Catarina jamais será substituída, eu sempre serei a mãe dela e ela nossa primeira filha."

O que acontece quanto a bolsa rompe prematuramente?

"Apenas 10% das grávidas em final da gestação têm a bolsa rompida antes do início do trabalho de parto que, em geral, começa com as contrações", explica o obstetra Jorge Kuhn, professor da Universidade Federal de São Paulo. A bolsa d’água, que envolve o bebê no útero, é formada por duas membranas e preenchida pelo líquido amniótico. Tem a função de proteger o bebê contra traumas e infecções. Depois que ela se rompe, o parto ocorre, em geral, em até 72 horas. Alguns obstetras, no entanto, optam por induzir o nascimento com medicamentos em seguida, a fim de evitar infecções.

Mas e se ela romper quando ainda é cedo demais para o bebê nascer? O médico pediatra e neonatologista Nelson Douglas Ejzenbaum, membro da Academia Americana de Pediatria, explica que, de forma geral, quando a bolsa rompe muito precocemente, é possível seguir com a gestação. Como o líquido continua a ser produzido pela placenta, a mulher deve ficar em repouso para mantê-lo. "Claro que, nesse caso, o romper da bolsa não significa a perda de todo o líquido, mas, sim, parte dele", esclarece.

Segundo o neonatologista, o maior risco é de uma infecção. "Após o rompimento da bolsa, a gestante deve ser acompanhada de perto, de preferência com internação, para ser feito controle infeccioso, o controle do volume do líquido e dos sinais vitais do feto até o nível de infecção. Enquanto o bebê estiver evoluindo bem, é possível seguir dessa forma, mas diante de qualquer sinal de infecção ou sofrimento fetal, é necessário intervir", esclarece.

Quando um bebê é considerado viável?

Um "prematuro inviável", isto é, quem tem pouquíssima chance de vida são crianças nascidas com menos de 20 semanas. No entanto, o pediatra afirma que cada caso deve ser analisado. "Aqui, qualquer criança que parece viável e tem mais de 20 semanas, investimos com tudo. Pois, é um bebê e pode sobreviver. Já tive pacientes que nasceram com 400 gramas e hoje estão muito bem. Outros, é claro, ficaram com sequelas", afirma.

"Se o bebê está perfeitamente formado, não há motivos para receber apenas cuidados paliativos. A orientação da Sociedade Brasileira de Pediatra e Sociedade Americana de Pediatria é que acima de 20 semanas, um bebê já tem chances de vida fora do útero e não deve ser tratado como aborto. Abaixo disso, são consideradas inviáveis, pois você estará aumentando a dor e não investindo em sobrevivência", finaliza.

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